O Leão

Prisão de Linhó, 1 de dezembro de 2015

Era tarde, o local era movimentado, muita conversa, o barulho dos talheres, no piso cinza as cadeiras são arrastadas, pegadas são deixadas e a sombra dos guardas escurecem o cinza, por falar neles, usavam fardas azuis com a bandeira portuguesa bordada no braço esquerdo e empunhavam rifles de assalto.

Os grupos formados são visíveis, os bandidos lusos (e outros estrangeiros) formam pequenas “gangues” no local, Fedrix chega no local e nada acontece, já foi a época que ele gerava alguma reação, ele caminha até as bandejas, coloca o prato na mesma, pega um garfo e uma faca que ameaçam cair, mas ele reequilibra-os, por fim ele garante um par de guardanapos.

Caminha lentamente pela fila que estava praticamente vazia, por um momento, um lampejo de seu passado o atinge, caminhando para o ringue, flashes em seus olhos, a música extremamente alta, os gritos histéricos, como se o corredor onde se pega comida fosse o caminho que finda na arena de batalha quadrilátera.

Ele sai desse pesadelo e pega um punhado de strogonoff, que parecia cimento, arroz, que era compacto como tijolos e por fim uma caneca de ferro com um suco amarelado, o cheiro era pior que o de tinta, tudo aquilo resultaria em um indigesto muro.

Caminhando para um canto qualquer isolado da movimentação de todos os criminosos, o Nova Yorquino passa de cabeça baixa pelas mesas, um homem de estatura pequena, pouco menor que um metro e sessenta centímetros o intercepta, Fedrix dá um passo ao lado e ameaça continuar o caminho sem contato visual, o pequeno inconveniente também se coloca ao lado, voltando à frente de Fedrix, as veias do ex-Wrestler saltam, nota-se que ele pressiona a bandeja com a força.

O Homem baixo é careca, gordo, tinha um olhar arrogante e um sorriso irônico, qualquer teria o prazer de acertar os dentes amarelados daquele homem, seu egocentrismo era assustador, era claro que ele não aguentaria 2 min de massacre com Fedrix, mas o homem é esperto, muito inteligente, conhece a situação do descendente de brasileiros e sabe que não será atingido.

Homem Baixo: Felipe... ou devo dizer Fedrix... (aquelas palavras enchiam a boca dele) como você dormiu? Espero ter se livrado dos seus pesadelos, deve ser horrível ser traído, mas você está num lugar melhor...

Fedrix respira pesado, mas parece concentrado.

Fedrix: Joaquim da Neves... (com um tom rouco e amargo)

Joaquim: Não me interrompa amigo, onde eu estava? AH! Aqui é a vida real, sem aquelas mordomias e fantasias, aqui você come de verdade, chora de verdade e apanha de verdade.


Joaquim coloca o dedo no Strogonoff do Iron Fist, aquela massa densa apresenta resistência, então ele faz um pouco de força, que empurra o prato contra o peito de Fedrix sujando sua roupa, após fazer um furo na montanha de creme e frango ele coloca na boca, faz uma cara de nojo e sai pelo lado.

Joaquim: Desculpa.... Alguém deveria colocar um verdadeiro cozinheiro nesse lugar!

Após Joaquim deixar o local, três homens que mediam quase dois senhores Sr. Das Neves apareceram na frente do Fedrix, o mesmo não esboçou reação, o homem do meio que era negro e sem um fio de cabelo bateu na bandeja de Fedrix derrubando o prato no chão, os talheres voaram e o suco foi para a camisa do ex-Wrestler, a bandeja continuou firme, a conversa acabou, os talheres fizeram seu último ruído, os guardam olharam para baixo e Joaquim soltou uma gargalhada.

Fedrix: Senhores...

Antes da palavra ser concluída, Fedrix levou um soco na barriga, foi um soco no muro para o homem negro, que visivelmente machucou um pouco sua mão, Fedrix enverga-se um pouco e é derrubado pelo outro capanga, ele não mostra resistência e nem expressa dor, os guardas não parecem se importa com aquilo e voltam a andar de um lado para o outro, vários socos e chutes são desferidos no corpo de Fedrix, que permanecia frio, um dos homens o levanta e o joga na parede, o barulho é alto e tira um pouco da tinta cinza das paredes, após um verdadeiro squash, Joaquim diz para os homens pararem e ele caminha lentamente e se gabando, Fedrix esta estirado no chão, com um olho roxo e o outro fechado, não dá pra saber se ele está desacordado ou se simplesmente não demonstra reação, Joaquim coloca o pé no peito do Iron Fist.

Neste momento de glória soa uma sirene, todos sentam-se e continuam a comer enquanto Joaquim continua em sua pose de conquistador, um homem engravatado entra no local cercado de seguranças.

Engravatado: Fedrix, tenho que falar com você.

Fedrix abre um olho e o que está inchado fica entre aberto, Joaquim percebe a movimentação e da rapidamente vários passos para trás, o Iron Fist normalmente se levanta e caminha para o portão como se nada tivesse acontecido.

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A sala era branca, Fedrix estava sentado em uma cadeira, com as mãos algemadas e encostadas em uma mesa de metal, do outro lado o homem engravatado era o diretor da Prisão, ele tinha um envelope a sua frente, a luz fraca fazia barulho, talvez o velho filamento de tungstênio esteja a ponto de queimar.

Fedrix tinha cabelo e barba grandes, olheira no olho que não estava roxo, e depois da situação do refeitório, sua camisa estava muito suja. Mesmo assim, Fedrix estava com os dedos cruzados e olhando fixamente para eles, o diretor após alguns minutos de silencio quebrou o mesmo.

Diretor: Sr. Felipe, conheço sua história antes da sua chegada, fico muito triste com os acontecimentos, as notícias de sua vinda ajudaram a aumentar a popularidade do presidio, mas nada se compara aos danos que você sofreu.

Fedrix manda um olhar cético ao diretor.

Diretor: Digo a verdade, tanto que já vou avisar que esta carta se trata de um convite para um show de Wrestling...

Fedrix se levanta e se direciona a saída, o diretor avisa que a sala está trancada, do mesmo jeito ele caminha até a porta e mexe a maçaneta com força, a porta não abre, o barulho alerta os policiais que estão vendo a situação atrás de um vidro “insulfilmado”. Fedrix volta ao seu lugar, respira fundo e pega o envelope, com pouca vontade de saber o que está escrito ele abre:

"Boa tarde senhor Fedrix,

A Direção da FPW convida-o para fazer parte do grupo seleto de Wrestlers que estarão no Evento especial de Aniversario da FPW, chamado: “FPW - O Regresso”. Sabemos do seu antigo problema com o Wrestling, porém garantimos que isso não acontecerá sob nosso contrato. Gostamos do seu estilo de luta, combina bastante com a nossa proposta. O pavilhão que pretendemos lotar tem capacidade para mil fãs que adoram mesmo o produto e gostariam de ver um combate brutal consigo envolvido. Pense bem Fedrix, a sua participação será de grande importância.

Atenciosamente, a Direção."

Fedrix esboçou um sorriso, tirou o outro papel, era um contrato, ele encarou aquilo por um momento, parece que aquela folha tinha um mapa que indicava dois destinos: Um tesouro incalculável e uma passagem direta para o inferno, mas ele não sabia qual caminho resultava em qual local, era um tiro no escuro.

Fedrix: Me dê uma noite...

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Na noite daquele dia

Fedrix estava em sua cela, a luz da lua iluminava metade do seu rosto, ele estava sentado no chão, com o contrato a sua frente, ele lia o relia o que estava escrito e o que não estava, pensava nas inúmeras possibilidades, via sua vida reestruturada e via outra traição que faria tudo aquilo não valer a pena.

Qual é o seu preço? Quanto vale a sua vida, sua honra, sua dignidade? Isso se você tiver alguma dessas coisas, Fedrix tinha? Naquele mesmo dia tinha apanhado sem demonstrar reação, virou a diversão do Joaquim, como era ridículo tudo aquilo. Este papel branco e liso, que formava um contraste com a cela suja e escura, poderia dar a chave dourada da liberdade, ou não daria? O Iron Fist não sabia quanto iria receber, não havia garantia de que aquilo o libertaria.

Por que ele cogita aceitar? Já não basta a situação ridícula que aconteceu na UWL? Burro não é aquele que erra, é aquele que volta a insistir no erro, mas ele teria que arriscar, sua burrice poderia render, ele não tem mais dignidade, honra, nem vida, não tem nada a perder.

Fedrix: Ah! (Balança a cabeça tentando afastar esses pensamentos) foda-se, se eu não conseguir o dinheiro necessário, pelo menos vou ter sangue nas minhas mãos, pode ser minha vingança, como se o homem perfeito e aclamado pelo povo que estiver na minha frente fosse o Wrestling, só tenho que ir lá e acabar com tudo isso da maneira mais brutal possível, isto talvez vale mais do que qualquer dinheiro que eu poderia ganhar, vingança... um prato que se come frio e sem modos.

Dinheiro e sofrimento, só isso que Fedrix quer, sem fãs, camisetas com seu rosto ou regalias, dia 27 será o dia em que um ou mais Wrestlers serão jogados na arena com um leão, leão maltratado pelos cuidadores, que não come, não dorme e não sabe o que é amor a muito tempo, vocês temem um lobo solitário? Imagina a real ameaça que um leão solitário pode apresentar, bom, Fedrix é a ameaça e o dinheiro é o prêmio, afinal ele já cumpriu grande parte da sua pena, não precisa de muito para sair do cativeiro.