Willow the Whisp, Promo #1

Amsterdam. Europe's Sin City. 'Como é bom reconectar com as raízes' ... seria o que eu poderia pensar. A verdade é que não tinha qualquer memória da cidade, pois ainda muito novo parti para a América do Sul. Nem sequer sabia falar holandês. Mas haviam coisas que eram linguagem universal ..

'Hax? Coke?'

Tentei resistir ao impulso, afinal estas duas velhas amigas já me tinham dado problemas antes.

Estava agora num bar, sentado ao balcão. Ambiente pesado e luz fraca ... excepto num canto da sala em que um foco luminoso se destacava. Sim, com foco luminoso quero dizer uma mulher. Sempre tive queda para as esquisitas, talvez por eu próprio ter passado os meus dias a ser chamado de 'freak'.
Ela tinha uma pele clara, longos cabelos pretos e uns olhos misteriosamente cinzentos. Uma criatura da noite, dava para perceber só de olhar para ela. Pareceu ter reparado em mim tanto como eu reparei nela. E nessa altura ocorreu-me que deveria estar pasmado a olhá-la.

Fez-me sinal para me aproximar. Nem sequer tive o pensamento formado de obedecer, o meu corpo como que se moveu sozinho. Peguei no meu uísque duplo e dirigi-me ao canto da sala onde ela se encontrava.

Primeiro disse algo na sua língua nativa que a mim se assemelhava ao som de alguém a morrer por envenenamento. Perguntei-me se aquilo seria holandês, e como me tinha safado de boa. Depois de lhe pedir que falasse inglês a conversa desenrolou-se. Disse-me que se chamava Abyss -um nome falso, claro- ao que eu respondi que me chamava Will ..ow the Whisp. Ela também percebeu facilmente que este não era o meu nome verdadeiro (provavelmente não seria o nome verdadeiro de NINGUÉM), mas não se pareceu importar. A verdade é que este nome já tinha história comigo, tendo-o usado várias vezes no passado quando queria manter o anonimato.

A conversa evoluiu naturalmente e pelo final da noite culminou naquilo que ela queria desde o início e naquilo que eu também já queria, depois de vários copos terem rodado a mesa. Levou-me para sua casa. Mal tive oportunidade de espreitar todo o interior desta, ou se tive não me recordaria depois. A verdade é que as memórias de toda aquela noite são fragmentos desligados e desfocados. Ainda assim lembro-me das coisas macabras e provavelmente ilegais que fizemos.

Depois de ela adormecer sentei-me na cama. Surpresa das surpresas, não conseguia dormir outra vez. Não tenho a certeza de que queria. A bebedeira tinha passado, miraculosamente. Dos lados da cama via todo o tipo de objectos utilizados antes, durante, e após o sexo violento e estranho que tivemos. Alguns dos quais nunca tinha visto na minha vida.

Pus-me a pensar. Estava à procura de sítio para me situar e começar uma vida, e esse sítio definitivamente não seria Amsterdam pois tensionava viver para além dos 30. Sendo a minha língua nativa o português, havia a hipótese Portugal. Por outro lado, falando um inglês fluente poderia semper fixar-me em Inglaterra. Londres talvez. Não era propriamente uma decisão difícil, entre uma das melhores cidades do mundo e um país minúsculo com menos população que a própria cidade de São Paulo. Mas se todas as minhas decisões fossem tomadas sem pensar duas vezes, por esta hora estaria morto. Teria que pensar melhor ..

"Escolhas óbvias são para losers."

Como assim é tomei a decisão que parecia à partida menos provável: vir para Portugal. Tinha desembarcado há cerca de 1 semana, e depois de uma situação provisória finalmente consegui alugar um quarto na zona da Grande Lisboa. Era um quarto pequeno, tendo apenas o essencial, mas era agradável. O apartamento tinha mais um quarto, que estava alugado a um jovem estudante. Nesse momento apercebi-me de que precisava de dar novo um rumo à minha vida. Não era muito mais velho que o meu novo 'room mate' e ainda assim não estudava, não trabalhava, nada. Prometi a mim mesmo que até ao final do dia ia ligar o GPS e encontrar uma direcção para a minha vida.

Depois de desfazer as malas saí do quarto em direcção à sala, onde o meu colega estava a ver televisão. Ele tinha-me dito o nome dele aquando da nossa apresentação, mas para ser sincero nunca o cheguei a decorar. Na minha mente chamava-o apenas de Gajo. Sentei-me. Estava no intervalo do jogo do Benfica, clube do Gajo, que estava a perder. O pobre rapaz estava em sofrimento, quase como se a sua própria vida dependesse daquele jogo. Nunca compreendi porque é que os fãs sofriam tanto com o futebol quando os próprios jogadores queriam era saber do dinheiro ao fim do mês e estavam-se a cagar para o clube, mas enfim. Durante um bloco informativo a meio do intervalo houve algo que me captou o interesse ..

-"Há uma nova federação de wrestling na cidade, a Federação de Puro Wrestling Revolucionário! E connosco temos o director de talento ..."

Federação de Puro Wrestling Revolucionário? hmm... lembrava-me de ver wrestling na TV quando era miúdo e gostar daquilo. Mas nunca pensei que chegaria uma federação a um país como Portugal.

-'Hmpf. Não percebo como é que alguém pode gostar de wrestling. Para mim são só uns maricas quaisquer de cuecas a fazerem sexo gay. Ainda por cima é tudo a fingir! Bela treta'

Á medida que ia conhecendo o Gajo chegava a uma conclusão inevitável: ele era um imbecil. Como era possível estar a sofrer com 11 gajos a correr atrás de uma bola como se fosse o funeral da própria mãe, e depois gozar com qualquer outro desporto? Saí dali imediatamente para evitar dizer umas verdades ..

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Estava um calor infernal, tanto que achei que o meu SG Ventil se ia acender sozinho. Estava a encarar um edifício de dois andares, velho e feio. Tinha um cartaz com grandes letras vermelhas: 'FPWR'. Entrei. Dentro estava bem fresco, mas ainda assim o ambiente era mais insuportável. Um cheiro demasiado intenso a baunilha, música foleira e a recepcionista a mascar pastilha elástica. Não é que eu acreditasse no mito de que as loiras são burras, mas esta loira em particular tinha mesmo aspecto de o ser.

'Boa tarde!! Veio para se inscrever na nova federação de résselin portuguesa???'

'Não, por acaso vim apen..'

'ÓÓÓÓptimo! Aqui tem um panfleto informativo. Vai já entrar no nosso show inaugural! Deixe-nos por favor o seu contacto para mais tarde lhe darmos todas as informações! Xau-xau!'

Resultado: nem sequer ia para me inscrever e acabei no show inaugural. A primeira impressão que fiquei desta federação não foi exactamente de grande profissionalismo, mas ao que parece o meu futuro próximo ia estar ligado a ela. Ao menos cumpri o meu compromisso de dar uma direcção à minha vida. Mas seria a correcta? Decido que não vale pensar nisso agora, dou um bafo no cigarro e volto para casa.