Oportunidade única

por Barreira Sex Jul 08 2011, 21:18

Estava eu em Inglaterra, a passar férias. No momento, o meu interesse era encontrar a bilheteira do estádio do Arsenal. Como a teimosia é uma das minhas características mais fortes, estava frustrado por não encontrar o desejado. Simplesmente desiste, frustrado com a situação. Tentei encontrar algo para me entreter. Fui ver um espectáculo amador de wrestling, algures em Londres. Parecia mais um emo-show. Estava aborrecido naquela cidade tão grande. Voltei para o hotel onde estava instalado, para uma noite de sono. Esperava que o dia seguinte fosse melhor.

Acordei, e fiquei impressionado com o clima. Ao contrário do que a cidade apresenta, estava um dia de sol sem nevoeiro. Depressa vesti uma t-shirt e os calções. Apressei-me a calçar os sapatos e saí do hotel, para ver o que podia fazer. Fui a Inglaterra com apenas um propósito, divertir-me. Até agora estava a ser uma porcaria. Bem, não só. Um dos meus sonhos de pequeno era ser lutador de wrestling numa grande companhia, ou não me chamo eu Tiago Martins. Fui a um café, com uma arquitectura diferente daquilo que se verificava. Comecei a fumar e sentou-se um estranho na minha mesa. Tinha ar de empresário, estava com o habitual fato e gravata.

Tiago: Hi, do I know you?

Desconhecido: So rude, God. I realise that you don't want me here so, bye.

E assim ele foi-se embora. Achei estúpida a atitude dele, mas tanto me fazia. Estava à procura de algo para me entreter durante algum tempo, caso contrário esta viagem iria ser um desperdício de notas verdes. Voltei para o hotel, e liguei o meu portátil. Decidi ir um pouco à net, para ver o que se passava no meu país. Deparei-me um site desportivo com uma nova agência de wrestling, e achei interessante. Claro que não fiquei radiante, ainda.

Com algum sono cliquei e fui redireccionado ao site da federação. Vi que era uma coisa amadora ainda, pouco bem estruturada. Após explorar um pouco as ideias dos criados e sócios, apercebi-me que podia ter futuro. Segui as instruções, e inscrevi-me. Porque não? Seria um sonho de infância que se realizaria. Mandei a inscrição com os devidos requisitos. Dentro de alguns dias iria receber a resposta via telemóvel.

Passados alguns dias voltei a Portugal. Voltei ao país onde nasci, e fui educado. Já em minha casa, sentei-me no sofá e pôs-me para mim a pensar: "Penso que tenho todas as condições para integrar uma federação de wrestling." Sou bem parecido, frio e excelente comunicador. Falei com os meus amigos e familiares mais próximos. Por incrível que pareça, todos aceitaram e respeitaram a minha opção, com muita sinceridade. Ora bem, nesta altura tinha as condições necessárias para ter um bom apoio.

Um dos meus problemas sempre foi o tabaco. Tinha que deixar de fumar tanto para conseguir render mais no meu ramo, caso tivesse a oportunidade. Com força de vontade acrescida, consegui reduzir. Recebi a proposta alguns dias depois. Tinha sido aceite na mais nova federação portuguesa de wrestling, tinha que fazer alguns exames habituais e testar o meu estilo de wrestling, generalizado. Uma oportunidade de uma vida estava a poucos dias...

por Barreira Dom Jul 10 2011, 21:33

Tinha comprado uma nova casa. Depois de um possível sonho tornar-se realidade, tinha agora uma nova habitação, onde esperava que servisse para boas noites de sono, depois dos shows. A minha família e amigos mais chegados estiveram em minha casa, nas segundas vinte e quatro horas em que morava lá. Ora, estava muito satisfeito.

Neste momento a minha vida era fantástica. Tinha uma casa perfeita, um lugar numa federação de wrestling quase garantida e uma família, amigos e namorada com quem podia confiar. Chegou o novo dia. Acordei cedo e fui dar uma volta, aos arredores de Lisboa. Sentei-me então numa cadeira dum café e pedi o pequeno-almoço. Nesse momento o termómetro do bizarro disparou; passou-me pelos olhos uma cara que não me era desconhecida. Olhou para mim e fez o mesmo olhar que lhe estava a fazer. Como o traje era um blazer e roupa aparentemente cara, pensei logo no homem que me tinha cruzado em Inglaterra, mas tirei quase imediatamente essa possibilidade. Até que me deu na cabeça para falar com ele:

Tiago: Hey, a sua cara não me é estranha. Conheço-o?

Desconhecido: Olá, sou quem você esteve a falar no outro dia no banco. A sua cara também não me era estranha. Passe um bom dia.

Ora bem, não era de facto o homem de Londres. Voltei para casa e fui visitar o site da federação, para ver se existiam novidades. Tudo na mesma, lutadores em fase de testes. Alguns dias antes tinha falado com João Nortenha, um empresário/ manager. Falou-me de alguns dos seus antigos clientes e contou-me alguns segredos para ser bem sucedido neste difícil ramo. Quando a fama é já de um nível razoável, são realmente muitas as pessoas que nos querem ver em baixo.

Não são conspirações, como alguns pensam. São simples manobras para deixar alguém mal. Prejudicam alguém para o benefício dos seus próximos, é algo comum no wrestling profissional. Nunca alinhei nesse tipo de jogos, acho desonesto e corrupto. Ainda bem que estou sempre na minha, não chateando ninguém. O pior é se alguém me chateia, pode ser que tenha algum azar. Não sou das pessoas mais meigas que conheço, gosto de socializar e de ter uma conversa agradável, mas não gosto que abusem da minha confiança. O último a fazer isso foi justamente em Londres. Pobre do gajo, deve estar a receber alta médica por estes dias.

Telefonei à minha namorada para saber novidades e passado dois quartos de hora desliguei o telefone. Queria aproveitar bem o dia, e fui dar uma volta (mais uma) pela cidade de Lisboa. Pôs-me a pensar no meu futuro na federação e nem sabia por onde estava a ir. Até que dei por mim num barro com mau aspecto. Encontrei dois sujeitos, um português e outro que parecia ser africano. Estavam os dois bêbados ou drogados. Estavam a cambalear, e até me abordaram:

Africano: Olhá' este, o que é que você está aqui a fazer?

Ri-me, enquanto continuava a andar, à procura de uma saída para este bairro, que parecia o Haiti depois do sismo. Até que me voltou a chatear. Pôs-se a andar atrás de mim, e agarrou-me pelo ombro.

Africano: Tenho material aqui.

Tiago: Deixa-me adivinhar, és traficante de alguma coisa?

Africano: É inteligente você. Mas agora que sabe não pode sair daqui!

O outro também se ria, e dizia a mesma coisa. Imbecis. Quando me começaram a circundar, não tive outra escolha que não metê-los no chão. Com a pedra que tinham nem comigo já no fim da rua se conseguiram levantar. Acho piada a esta gente, que pensa que por ser drogada ou semelhante é melhor. O meu único vício era o tabaco, e consegui deixar. Naquele momento sentei-me no passeio e mais sério do que há momentos meti-me a pensar do que seria a minha vida se fosse como aqueles dois indivíduos. Sem futuro e a recorrer às drogas para alcançarem alguma coisa. Se recorresse a isso só podia dizer que tinha alcançado o expoente máximo da estupidez.

Quando estava a apanhar um táxi para casa, um homem da federação telefonou-me. Estive a falar um pouco com ele e daqui a dois dias era para eu comparecer na sede da federação para fazer alguns testes. Foi o ponto alto do meu dia.

por Barreira Qua Jul 13 2011, 20:31

Entrei na sede da federação e fiquei a olhar para o meu redor, fiquei impressionado. A arquitectura era impressionante, e toda a recepção estava preenchida com a última tecnologia. A senhora da recepção rapidamente me atendeu e acompanhou-me até à sala de testes. Fiz alguns exames naturais, como em qualquer desporto. Fiz alguma passadeira, flexões, até um raio-x. Se estivesse mal disposto dizia se também iam fazer uma colonoscopia, só para o gozo. Mas estranhamente não conseguia tirar um sorriso da cara, estava feliz como há muito não estava.

Quando saí do quarto, indicaram-me o meu próximo destino. Fui acompanhado a um ringue, onde se encontravam dois homens com grande estatura. Se fosse para lutar contra ele tinha pena de mim mesmo. Pareciam bastante simpáticos, ao contrário daquilo que os seus ares intimidadores pareciam indicar. Cumprimentaram-me e abriram uma pasta com algumas perguntas.

O questionário foi longo, mas com algumas piadas e conversas aparte do questionário passei lá um bom bocado. Consegui ver que ficaram impressionados quando disse que consegui deixar o vício do fumo.

Alexandre de Matos: Mano, acabaram-se as perguntas. Já vi que pareces estar numa boa forma física, e será preciosa para o arranque desta federação. O teu desempenho vai dependar de ti mesmo e de mais ninguém. Agora vamos fazer uns pequenos testes, para ver como está o teu wrestling.

Já sem estar intimidado com os dois homens, perguntei a Alexandre se queria trocar uns golpes, fazer um combate. Este aceitou e Mário Vale foi o árbitro. Combatemos durante um bom bocado, até que com um 'Crossface' venci por submissão. Ouvi palmas, olhei para trás e lá estava o presidente e criador da FPWR. Fiquei estático, mas lá fui cumprimentar o homem. Surpreendemente, convidou-me para ir beber qualquer coisa a um café próximo da sede da federação.

Lá fui, com o meu provável novo patrão. Estivemos a trocar algumas ideias para os shows, e ficou impressionado com a minha vontade de querer conquistar o mundo. Classificou-me como um jovem que estava pronto para qualquer desafio que lhe seja proposto, e que é o tipo de wrestler que lhe agrada. Porém, nada estava feito ainda. Ainda tinha que esperar pela avaliação das perguntas que me tinham sido feitas, e também dos exames.

Voltei para a sede e o Alexandre estava com uma pasta na mão. Entregou-me a sua apreciação e a do Mário referente às perguntas. Vi que estava tudo dentro daquilo que esperava, satisfatório. Entretanto chamaram-me para o gabinete do boss.

Boss: Em nome da Federação de Puro Wrestling Revolucionário, devo-lhe dizer que a sua presença aqui foi muito positiva. Tem tudo em condições, agora (entregando uma folha) gostava que assinasse este contrato, para se tornar um wrestler desta federação.

Tiago: (assinando o contrato) É uma honra, cá estarei para dar o meu melhor.

Boss: É isso jovem, agora é melhor irmos andando.

Saí da sala, e fui até a casa aos pulos. Estava radiante pela oportunidade. Comuniquei a minha família, amigos e namorada. Todos estavam felizes por mim, como era normal numa ocasião destas. Domingo a minha prioridade era estar no Pavilhão Atlântico, para testemunhar o primeiro show desta companhia. O dia tinha sido longo, jantei e fui imediatamente dormir.

por Barreira Dom Jul 17 2011, 23:13

Antes do show, os treinos eram essenciais. Treinei horas e horas por dia, era uma rotina repetitiva mas que era indispensável para entrar com o pé direito nos primeiros shows. Queria mostrar que estava realmente à altura de uma federação como a FPWR.

Decidi ir sozinho a um lugar isolado. Fui parar ao interior do país, numa espécie de campo. Parece 'cliché', mas precisava de relaxar. Aluguei uma casa de férias e passei lá o dia, sozinho. Sem nenhum meio de comunicação e apenas com a roupa que tinha no corpo. Treinei intensivamente lá, e depois tive um sono mais do que merecido.

O tempo parecia andar devagar, e muito. Seria provavelmente do entusiasmo, da vontade de chegar a terça-feira, dia do primeiro show. Quando voltei a Lisboa cruzei-me na rua com um dos preparadores físicos/observadores da federação, Alexandre de Matos. Cumprimentou-me e meteu conversa.

Alexandre: Então mano, estás ansioso para que chegue o grande dia?

Tiago: Claro, pá. É sempre uma grande carga de nervos, é o primeiro show e penso que queremos todos deixar uma boa impressão perante todos.

Alexandre: Tá' claro que sim. Vou para casa, fica bem e até terça.

Tiago: See ya.

Parecia que não era eu o único a estar ansioso por esta estreia da federação, no Pavilhão Atlântico. Acreditava que tudo ia correr bem mas o sentido de nervosismo é perfeitamente numa ocasião destas. Voltei para casa e decidi ir ao site da federação, para ver se tinha havido alguma novidade. Nada de relevante. Apenas alguns testes a alguns wrestlers. Os meus dias estavam a ser longos, decidi jantar e ir descansar um bocado, estava exausto da grande carga de treino.

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