Renascer das Cinzas [Carlos Levante]

Não tinha passado muito tempo desde que Carlos Levante tinha abalado as coisas no Wrestling Português. Depois de causar confusão na última federação onde havia estado com a ajuda de João Silva, Kevin Gunn, Jack Neville e Emily Cruz. Já conhecidos por muitos como verdadeiros heróis, e por outros como falhados odiáveis, a rebeldia deles haveria de marcar o desporto por anos. O que interessava agora é que já semanas depois de tudo acontecer, Carlos e João Silva tinham-se tornado bons amigos. Quase como dois homens que vão para a guerra e lutam no mesmo pelotão, o sentido de companheirismo estava agora presente. Era comum irem a casa um do outro, discutirem o seu futuro, planear uma re-entrada em grande no desporto. A resposta a todas as preces veio na forma de Emily, noiva de Carlos Levante. O lutador ainda se lembrava vagamente das palavras dela ao telemóvel, ao dizer-lhe que o seu pai Henrique Cruz estava de volta a Portugal e com grandes ideias planeadas, contratos já assinados, e uma fúria incrível contra a maneira como o Wrestling estava a ser representado em Portugal, por gente mesquinha, sem honra e sem noção daquilo que é a verdadeira arte do desporto em si. Idiotas que se deviam ficar pelo negócio da cortiça.

Emily havia marcado um encontro entre Carlos, a mesma, João Silva e Henrique Cruz. O encontro decorreu na casa dos Cruz. Praticamente uma mansão imponente que representava a estabilidade económica desta família, e ao mesmo tempo demonstrava que era uma família capaz de gerir um negócio sem grandes medos. Entrando pela porta da frente após atravessar um jardim de proporções bastante grandes, Carlos e João falavam um com o outro despreocupadamente, nada tinham a temer.

Carlos: Estás pronto para falar com o grande tubarão?

João: Qual é o problema? Andas a comer a filha dele, és o Triple H da cena, estamos bem andados...

Carlos: Pois, ando a comer a filha dele e nunca o vi sequer à minha frente. Não sei se devia estar preocupado.

João: Que nada, somos gente carismática e adorável, ele vai gostar de nós de certeza. Vou é já começar a fazer imposições em relação ao meu contrato.

Carlos: Já te vais meter a pedir?

João: Ora, se o gajo gastou milhares em potes de flores como vês á tua frente, não se deve importar de me meter mais uns milhares na cláusula, afinal de contas, eu já fui campeão e tenho bastante fama na cena Portuguesa...

Carlos ri-se vagamente antes de bater á porta enquanto mira João que parece bem mais relaxado. João vestia um blazer e umas calças de ganga, nada de muito formal mas também nada de muito casual. Carlos no entanto vestia uma t-shirt a fazer publicidade ao próprio, umas calças de ganga e uns ténis sujos de terra. Ele era mesmo assim, definitivamente não servia para poster de uma corporação.

Emily abriu a porta e ao ver Carlos e João sorriu, abraçou-se a Carlos e deu-lhe um beijo duradouro antes de o soltar e fazer sinal para entrarem.

João enquanto entra pela porta: E eu não tenho direito a beijos? Pouca vergonha, diz-lhe lá que eu sou um ex-campeão!

Carlos faz sinal de negativismo com a cabeça antes de espetar a palma da mão na cara.

Entrando aos poucos no enorme hall de entrada bem adornado de quadros, mobília de aspecto requintado, grandes espelhos, corrimões de mogno, Emily faz-lhes sinal para entrarem numa sala á direita, onde uma enorme mesa espera por eles, na ponta da mesa como um bom chefe de família Henrique Cruz espera-os, de camisa e óculos na cara lê uns papéis antes de os ver e se levantar para os cumprimentar.

Henrique Cruz: Bem vindos, por favor sentem-se...

João Silva senta-se do outro lado da mesa, na outra ponta armando-se em vedeta. Carlos ainda lhe tenta fazer sinal para ele sair de lá, mas o mesmo já se sente confortável. Henrique ainda ergue o sobreolho pois claramente aquele lugar era para Emily, mas como nem a mesma se parece importar e limita-se a sentar junto a Carlos as coisas continuam a decorrer normalmente.

Henrique Cruz: Bem, creio que todos aqui percebem o que espero de vocês agora na AWA, qualidade acima de tudo. Ofereci-vos estes contratos que são talvez os mais bem remunerados dentro da federação porque espero qualidade do vosso lado. Estou a par de que o senhor João Silva vai passar a ganhar quase o dobro do que ganhava anteriormente logo quero ver o dobro de esforço e brio.

João Silva: Conte comigo, fui campeão uma vez, posso ser duas.

Henrique Cruz: Agradecia também que parasse de se vangloriar com feitos passados, a AWA é a AWA, a Fábrica de Cortiça é a Fábrica de Cortiça. Você vai começar do zero e vai aceitar os termos que lhe forem impostos. Tenho também de vos agradecer por me ajudarem a convencer o Senhor Gunn a ficar em Portugal. Entendo que o mesmo estava a planear não voltar, logo, a vossa ajuda na contratação dele não é esquecida.

Carlos: Senhor Cruz, já tem alguma idéia de quando podemos começar a trabalhar?

Henrique Cruz lança um olhar penetrante, um pouco frio a Carlos.

Henrique: Dia 23 de Setembro, próxima segunda-feira, ambos os senhores estarão envolvidos numa luta de equipas, creio que não preciso de revelar nomes já porque não existe nenhuma vendeta entre vocês e os vossos adversários são-vos desconhecidos.

Carlos: Entendo, então nós sem dúvida começaremos a treinar para lhe demonstrar o nosso valor.

Henrique: Espero uma vitória vossa, conto que a vossa sinergia como equipa valha para alguma coisa...

João: Não o desapontaremos, pode confiar em nós.

Henrique: Quanto a você senhor Carlos, tenho entendido que se encontra num relacionamento casual com a minha filha.

Carlos engole a seco não sabendo bem o que esperar. Emily fala antes de ele ter oportunidade.

Emily: Pai, acho que é um pouco mais que casual.

Henrique Cruz mira seriamente Carlos como se o medisse.

Henrique Cruz: Não tenho nada contra, mas cuidado com as decisões que faz, não se esqueça que eu sou o seu novo patrão.

Carlos sentindo-se mais confiante mira-o seriamente de volta.

Carlos: E eu sou perito em enterrar e humilhar patrões, ou já se esqueceu?

Ambos acabam por se rir.

Henrique: Muito bem senhores, acho que estamos decididos, um copo para celebrar um bom inicio de federação?

João Silva: Eu bebo suminho se tiver.

Carlos: Este não gosta de alcool, meteram-lhe alguma coisa na bebida quando era mais novo, ficou traumatizado.

Henrique: Tenho a certeza que se arranja alguma coisa, filha vai buscar os copos.

E lá ficaram João, Carlos e Henrique a discutir o futuro por vir, esperando algo duradouro.