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Entrevista com Samuel Úria

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Mensagem por j ॐ Ter Dez 22 2009, 22:56


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MusicaOnline: O "Nem Lhe Tocava" é um disco solitário?

Samuel Úria: É solitário na forma como as músicas foram escritas e em todo o processo criativo, porque faço músicas de forma preguiçosa e espaçada, sem qualquer método. As coisas surgem no momento, aponto, pego na guitarra e está feito. Nesse sentido é, obrigatoriamente, solitário.

Por outro lado, quando surgiu a oportunidade de fazer este disco com o suporte de uma banda, as coisas mudaram um pouco na medida em que ela está lá, de certa forma, como garante de simplicidade. Quanto toco sozinho há um lado intimista e meditativo que extravasa e a banda ajuda a que isso não aconteça. A música respira melhor para que assuma ainda mais o formato canção.

MO: Neste álbum há uma obsessão com o simples?

SU: Este é um disco de desilusão porque não corresponde ao disco do "baladeiro alternativo" com que me costumam rotular. Eu já sabia que o álbum ia desiludir muita gente e provavelmente só daqui a 10 anos é que as pessoas vão gostar dele, mas queria que as canções respirassem e se identificasse claramente o formato canção. Para isso era importante não dar muita atenção ao pormenor nem aos arranjos. Não é um disco de detalhe e, numa altura em que todos querem fazer discos sofisticados, eu quis o contrário.

MO: A palavra é muito importante no teu trabalho. Achas que te podes enquadrar numa nova geração de "cantautores"?

SU: O único problema com o "cantautor" é a palavra não existir no dicionário (risos). A sonoridade também não é particularmente feliz, mas não tenho qualquer problema com esse rótulo. É um privilégio quererem incluir-me num grupo onde estão alguns dos maiores músicos da nossa história e que conseguiram fazer, de forma sublime, a ponte entre a canção e a música popular portuguesa. Conseguiram juntar a forma erudita de escrever as letras com a música popular e de fácil acesso.

MO: E no teu caso o que flui mais naturalmente: a música ou o poema?

SU: Geralmente surgem em simultâneo, mas nenhuma coisa me toma muito tempo. Como já disse, sou preguiçoso e as coisas acontecem rapidamente. Nos poemas há sobretudo uma projecção das coisas que lia em criança, sobretudo autores portugueses que não tinham medo da sonoridade das palavras e não enjeitavam as figuras de estilo. O meu processo de escrita é muito simples e rápido, ainda que nem sempre me orgulhe disso. No single há uma aliteração um pouco forçada, mas controlar isso dava muito trabalho e, como sou preguiçoso, deixo ficar assim.

MO: A preguiça é o teu pecado capital?

SU: Sem dúvida, mas habitualmente não me afectava em coisas que me davam prazer, como a leitura. Hoje leio muito menos.

MO: Sendo tu baptista, que papel tem a religião na tua música?

SU: Cresci encarando a música como uma expressão congregacional de louvor. Gosto de ter um cunho gospel e soul nos meus discos precisamente por isso. A música espiritual negra foi a raiz de quase todos os géneros e eu gosto de manter essa identidade.

MO: E o que há de profano neste álbum?

SU: O que há de mais profano neste álbum é o facto de existir uma temática centrada, ainda que nem sempre de forma explícita, na saudade. Viver no passado e obcecado com memórias é altamente profano, sobretudo porque às vezes me custa a aceitar o presente. Prefiro tudo o que é antigo. Quando se fala em profano as pessoas associam logo a sexo e a drogas, mas eu acho que a saudade é profundamente pecaminosa. Continuo a viver muito das memórias da minha terra natal, dos meus amigos e de tudo o que fazia quando era mais novo.

MO: Como é que foi crescer em Tondela e quando se deu o contacto com a música?

SU: Gosto muito de pensar que cresci atrás do sol-posto e que o que consegui foi à custa de muita persistência, mas não é verdade (risos). Apesar de ser uma cidade pequena, havia uma preocupação muito grande dos tondelenses em relação à cultura. Sempre houve muito teatro, festivais de jazz," world music" e um sem número de actividades culturais. Na escola a arte também tinha um papel muito importante. Para além disso, via muita televisão e estava a par do que acontecia no resto do mundo.

MO: O título do álbum, "Nem Lhe Tocava", remete para o sagrado ou está tão bom que não mudarias nada?

SU: É sobretudo um álbum despreocupado. Pode até estar muito mau, mas não quero saber porque era o que queria fazer nesta altura. O "Nem Lhe Tocava" tem que ver com algumas expectativas que se criaram à volta do disco, sobretudo daqueles que esperavam que tomasse um rumo mais meditativo e solitário. Quando decidi fazê-lo desta forma, consciente que iria desiludir muita gente, assumi-o de forma inequívoca e disse "Nem Lhe Tocava". Se quiserem esperar por outras coisas, talvez um dia...

MO: Falas muito em despreocupação, mas em algum momento tiveste a preocupação de manter a identidade Flor Caveira?

SU: Isso sim, mas é algo que acontece naturalmente, até pelo tipo de linguagem usada no disco. Há um jogo claro entre a objectividade e a subjectividade, transversal a quase todos os discos da Flor Caveira. Há sempre o cuidado, pelo menos por parte dos músicos originais, de aproveitar cada palavra e não fazer discos só de música. Em termos de exploração musical e produção é uma coisa mais cuidada, mas se não é "low-fi" em termos de produção, pelo menos que o seja em termos ideológicos. Se não há ruído, que exista pelo menos a noção de que poderia haver (risos).

MO: Falaste nos "músicos originais". Já tens saudades desses primeiros tempos e achas que a Flor Caveira está a perder identidade?

SU: Não, porque a Flor Caveira era o que era por falta de meios para fazer diferente. É verdade que havia maior liberdade criativa porque não tínhamos a atenção de ninguém e podíamos escrever músicas só sobre os nossos amigos, gravá-las em CD-R e tocá-las para 15 pessoas em salas muito pequenas. O que há de bom na Flor Caveira é que, sempre que quisermos, podemos voltar a esse registo. Tenho um disco gravado integralmente num dia e com um som inaudível que penso editar em breve e o facto da Flor Caveira já não ser só isso é bom porque cria contrastes interessantes. Acho que esse espírito inicial vai voltar à tona.

MO: A fusão de estilos é o teu estilo?

SU: Sim, até porque ouço muitos estilos de música. O simples facto de não ter preocupações estilísticas quando estou a preparar um disco faz de mim um artista de fusão. As pessoas identificam-me como "baladeiro alternativo", mas é meramente circunstancial. Quando entrei para a Flor Caveira ainda vivia em Tondela e não tinha ninguém para tocar comigo e desenvolvi a capacidade de construir e apresentar as músicas sozinho. Apesar de tudo, tenho outras facetas, dentro da Flor Caveira, que vão desde o punk / rock, com as Velhas Glórias à música mais popular, com os Ninivitas. Sinto que não estou preso e isso é o que melhor me define.


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