Um regresso natural

Era um dia solarengo de Verão, igual a tantos outro; banal como tantos outros. Não que banalidade fosse propriamente negativo, em certas ocasiões não o é, mas nesta dá que pensar.

“1...

2...

3! George Nature conseguiu!”

???: Ok, cala-te lá com isso. O e-réssel em Portugal acabou. Nunca mais vou voltar a um ringue.

George Nature, ilustre e-réssler da já extinta Extreme Federation, permanecia encostado a uma árvore de um jardim local disfrutando da sombra por ela provocada. Sobre as suas coxas, tinha uma folha de papel e um lápis.

“Tu és um fraco, estás num estado demente. Tu não podes apagar o ponto final de uma história. Pura e simplesmente podes torná-lo numa virgula.”

George Nature: Não te suporto, foda-se. És a merd* do meu subconsciente, ou será a insanidade mental que se apoderou de mim? Deixa-me masé escrever, e ouvir o cantar dos pássaros que tanta vida espalham na minha vida, que por si só já está tão morta...

Começa pensativo a rabiscar a folha de papel com olhar lúgubre. Passado alguns minutos levanta a folha de papel com lágrimas no canto dos olhos, dando sinais que já acabou o seu ‘trabalho'.


“É como te digo, és um fraco. Nem sequer consegues olhar para cima e ver a merd* de panfleto que está colado na árvore...”

George Nature (levantado-se indignado): O quê? Panfleto colado na árvore? MAS ISSO É POLUIÇÃO! ISSO É CRIME!

Arranca-o furioso sem sequer olhar bem para ele. Dirige-se numa velocidade imensa ao ecoponto mais próximo quando...

“Oh! Idiota! Eu disse-te para veres o panfleto, não para o reciclares!”

George Nature (começando a dar uma vista de olhos no panfleto): Mas que é q...

Repentinamente, George Nature fica intacto a ler para si mesmo o panfleto.

“Vês? Eu disse-te! Não podes mudar um ponto final, mas podes mudar uma virgula!”

George Nature (estupefacto, passando a mão direita pela testa): Uma...nova...federação...de e-réssel?

“Finalmente percebeste. Nunca digas nunca, amigo! Agora trata de ires procurar as tuas coisas, estás de volta caralh*.”

Sentado na sua poltrona tão bem colocada num dos cantos da sua gigantesca sala de estar, George Nature estava sentado comodamente apenas de boxers e com o seu longo cabelo despenteado como se tivesse acabado de acordar. Na sua mão direita, habitava o Titulo Xcess, e na sua mão esquerda habitava o Titulo Extreme, ambos titulos da já extinta Extreme Federation, para os quais Nature olhava muito sério sem pestanejar. Na verdade, já ali estava naquela posição há algumas horas.

George Nature (sorrindo para os títulos): Vocês são a minha história. Quem é o George Nature sem os Títulos Xcess e Extreme, respectivamente?

Surge nos seus lábios um sorriso esguio, mas rápido.

GN: Nada. Todos conhecem o Nature como o criador do tão aclamado Titulo Xcessive. Pois...

De rompante, atira os títulos contra a televisão que estava mesmo à sua frente e o ecrâ fica com uma pequena racha.

GN (levantado-se e olhando em redor como se estivesse diante de uma grande plateia): Mas o passado, é passado. Não é correcto vivermos agarrados a antigas memórias. A memória é uma coisa boa, mas acaba sempre por ser esquecida.

Faz uma pequena pausa, talvez para pensar no que dizer a seguir.

GN: Sei que o George Nature não está morto, e pode voltar aos grandes palcos tal como já o fez. Encaremos isto como uma pequena migração de uma gaivota que agora... VOLTOU!

Coloca as suas mãos no seu longo cabelo durante alguns segundos, e prossegue.

GN: Não posso dizer que vem aí um novo George Nature, porque as pessoas nunca mudam realmente. Podem fingir que mudam. Mas eu cá odeio falsidades. Sou o mesmo. E vou lutar pelo que eu gosto. Aliás... Pelo que amo. Tal como sempre fiz

Respira o fundo, enchendo o peito cheio de ar. De seguida anda alguns passos e pega num telemóvel que estava pousado sobre uma mesa de madeira no centro da sala. Marca um número e leva o telemóvel ao ouvido.

GN: Estou... é da Federação de Pro Wrestling? É? É possivel falar com o Manzk? Sim, claro que posso esperar um momento...