Cabana (não) abandonada

Na claridade um espaço muito amplo, com dois pisos, a nossa acção passa-se num deslumbrante sofá que tem como protagonista nada mais do que um escritor de renome, um verdadeiro cavalheiro e acima de tudo um verdadeiro poeta da língua de Camões. Este homem encontra-se com o seu melhor fato devidamente vestido para uma ocasião de gala e encontra-se reflectindo sobre grandes ideias filosofias.

Podia ser assim que a minha vida se passa-se mas não. O sofá é sem dúvida do século passado e a minha vestimenta não passa de um pijama deslavado e mal cheiroso. Pois bem rotina.

Martim levantou-se e dirigiu-se até a cozinha, pelo meio passou por uma porta que se encontrava com um nome pintado. Podia-se ler “Filipe quer-me matar.” Este parou uns minutos em frente a porta e depois de passar a mão na cabeça dirigiu-se até ao sítio que tinha inicialmente pensado. A cozinha não estava na organizada e podíamos ver havia muita loiça por lavar, uns pequenos rascunhos na mesa de jantar e até um velho jornal de 1994. Martim sentou-se numa cadeira cheia de pó depois de ter colocado uma chávena de leite no micro-ondas. Ajeitou o cabelo suavemente e tirou do micro-ondas o leite adicionando só alguns cereais. Comeu lentamente a refeição deliciosa e subiu as escadas.

Lá encontramos um espaço cheio de material e cheio de livros, papeis, cadernos e um computador em cima de uma pequena e velha escrivaninha. Este sentou-se em frente ao computador e começou a ler…

- O homem sentado no jardim olhou para a senhora que já tinha encontrado anteriormente naquele local, já tinha cruzado tantos olhares que aquele não era só mais um, mas sim o “olhar”.

Martim: Bela merd* e sabes o que fazemos à merd* Rúben?

Rúben era o cão da antiga mulher, que está morta. Contudo isto não faz de Martim viúvo mas sim de divorciado pois esta já, gentilmente, lhe tinha colocado os palitos com outro numa noite de Dezembro.

Martim: Apagamos!

Martim pensou duas vezes mas mesmo assim carregou no delete. Sentindo-se stressado e num piscar de olhos tirou de uma pequena gaveta no fundo da escrivaninha um pacote de cigarros. Saboreou a primeira passa…

Martim: Tu não fumas oblá!

Atirou com o cigarro para o chão e com o pé apagou, de seguida atirou-o pelas escadas abaixo. Dito e feito levantou-se e sentou-se novamente no sofá na parte de baixo da cabana. O tempo lá fora estava convidativo mas este continua a fazer-se de zumbi. Nisto deu meia volta no sofá e começou a ler um pequeno panfleto que pelo estado parecia já estar naquele local há bastante tempo.

Martim: Wrestling? Isto não é para mim, mas até que era uma boa forma de ganhar dinheiro.

???: Olha que era uma excelente ideia para nós…

Martim deu um salto no sofá e aterrou no chão, certamente já estaria a espera da presença de Filipe Guedes, apesar de ultimamente este não entrar tanto em contacto com ele… A figura do homem era o de um verdadeiro campónio. Um chapéu preto daqueles de cowboy olhava na direcção de Martim que ainda estava deitado no chão depois do susto que apanhou…

Filipe Guedes: Se for preciso ajuda para levantar…

Martim: Não é preciso diz logo de uma vez o que queres agora e deixa-me em paz.

FG: Fantástico agora é assim que tratas os teus amigos?

Martim: Não és meu amigo e nunca foste, simplesmente foste contratado pelo idiota do amante da minha ex-mulher. Mas agora estão todos mortos por tua causa e eu vou incriminar-te perante a polícia! Não me faltam provas.

FG: Que provas Sr. Machado? Aquela chave de fendas que estava na cabeça do seu advogado? Era sua…

Martim: Já escrevi a historia tal e qual como querias e agora? Não posso fazer mais nada! Deixa-me em paz.

Martim levantou-se subitamente e ajeitou o seu pijama enquanto que Filipe puxou de uma velha cadeira e sentou-se. Ambos estiveram um longo tempo a olhar fixamente um no outro e nem a boca abriram. Apenas conseguíamos ouvir os pássaros a assobiar lá fora. O ambiente não era propriamente calmo e tranquilo mas sim de grande tensão. Nisto o homem de chapéu à cowboy falou…

FG: Tu sabes o que eu quero e vais cumprir. Aliás tu desdo inicio que sabes de tudo. A história que me roubaste já tem o final que eu queria e agora vamos para o segundo passo.

Martim: Eu não roubei historia nenhuma. Aquela era a minha história! Publicada em 1995. E você diz que escreveu a sua em 1997. A situação já se agravou de mais. Já morreram todos!

FG: Faltamos nós os dois.

Nisto o homem tira o chapéu da cabeça e deixa-o em cima da mesa da sala de estar e dirige-se para a porta. Martim coloca as mãos a cabeça e começa a gritar.

Martim: IDIOTA!

Contudo ele não reparou de imediato que o chapéu tinha ficado lá em casa e subiu as escadas em direcção ao quarto…