O destino chama-te
O destino chama-te
Chegou ao quarto de uma pensão exausto, a precisar de descanso, depois de várias e longas horas de viagem. Os últimos 5 anos foram muito positivos e suficientemente gratificantes para lhe dar a força que ele precisava.
Chegado a Portugal e ao seu quarto por enquanto, atirou as malas para o chão. Olhou à volta, relativamente satisfeito com o que via. Não era um local chique, nem nada muito sofisticado e perfeito. Era um sítio simples, acolhedor, que lhe dava segurança e privacidade.
A ideia de ficar num quarto de hotel, porém, trazia-lhe dúvida. Não queria ficar ali eternamente, nem sequer queria fazer uma vida assim. Queria assentar, ser alguém… normal, algo que nunca foi em 26 anos e 7 meses de vida.
A vista, da janela, era inspiradora. Olhou o horizonte e reparou no seu olhar através do vidro. Respirou fundo e fechou os olhos, depois de abrir a janela, deixando o ar entrar-lhe pelos pulmões e invadir-lhe o corpo.
Olhou as mãos, que lhe deram tudo aquilo que tem – e é – hoje. Cerrou os punhos e juntou-os, olhando novamente o céu e, talvez, escutando o que ele lhe tinha para dizer.
Mirou novamente o que o rodeava, e pegou na cadeira que viu. Tirou, de um dos sacos, o seu velho diário. Durante alguns momentos, leu algumas passagens antigas, que lhe traziam recordações. Umas boas, outras não tão boas, mas todas lhe permitiram aprender e crescer. Evoluir. Ser alguém melhor. A que mais lhe chamou a atenção foi a do dia 24 de Maio de 2005, dia em que aterrou em Chicago para o “primeiro dia do resto da sua vida”.
“Cabeça.
É aqui que está tudo que controla a vida.
É aqui que os pensamentos descansam.
É daqui que aparecem os sentimentos.
Isto é o centro do corpo, o que nos permite avançar e recuar, nos permite aceitar e recusar as circunstâncias da vida.
É aqui que reside o problema de todas as pessoas. Somos todos tão iguais, mas tão diferentes.
É na cabeça que a força começa, que a responsabilidade tem o seu primeiro dia de trabalho. É na cabeça que começa o dia-a-dia, o desenrolar de uma vida.
Hoje a minha vai mudar, mas as coisas vão continuar a ser as mesmas.
Ninguém sabe quem eu sou, e no entanto parece que eu sei quem toda a gente é. Estranho? Talvez. Esquisito? Quem sabe? Verdadeiro? De certeza.
Todos me olham com desdém. Parecem provavelmente receosos de mim. E eu agradeço. Porque é assim que consigo ser quem sou, e que consigo fazer o que faço: ser eu próprio e deixar as pessoas na dúvida.
A partir de hoje, tenho um propósito, e nada me vai impedir. Nada me vai parar, nem nada me vai fazer mudar de ideias.
Cabeça, o que tu fazes às pessoas…
Cabeça, o que me obrigas a fazer…
Cabeça, o quanto vais sofrer.”
Fechou o caderno e, olhando novamente o horizonte, apercebeu-se que as coisas estavam a começar a correr bem. Levantando-se, atirou o caderno para cima da cama, pegou na chave da pensão e saiu, determinado. O próximo passo teria de ser dado por ele, com toda a convicção.
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Re: O destino chama-te
Foi com a sensação de alívio, e ao mesmo tempo de gratificação e confiança, que saiu do escritório do seu futuro patrão. Com o olhar inexpressivo, apenas com a sua intensidade habitual, passou pela porta e, sentindo o cheiro quente, embora algo poluído, da tarde de Lisboa, teve um impulso que lhe disse para fazer algo que nunca fez, pelo menos em público: gritar.
Mais calmo e comedido, enquanto avançava pelas ruas da cidade, pensava, a cada passo que dava por aqueles locais que nunca visitou e que por isso desconhecia, que a vida estava prestes a mudar.
Após tantos anos de indefinição e reflexão, o dia mais importante da sua vida estava a chegar, e a excitação que sentia correr-lhe nas veias era inesperada. Era um sentimento novo. Não sabia se gostava de tal sentimento, mas esperava ter uma resposta com o passar do tempo.
Seguindo as indicações que decorara faz menos de 20 minutos, foi passando por pessoas que o olhavam de forma diferente… mas tão igual. Era algo que já não o preocupava, porque já tinha visto de tudo, passado por tudo e enfrentado tudo, daí que alguns olhares mais suspeitosos eram como queijo numa pizza: tem mesmo de ser.
Quase a chegar à sua, por agora, habitação, continuou a pensar na vida. Os últimos cinco anos foram os melhores da sua vida, onde os passou a fazer algo que sempre gostou: sofrer. Mas por uma boa causa, acreditava. Todas as palavras que lhe foram endereçadas pelos treinadores, responsáveis, adversários e, imagine-se, fãs, saíam da parte de trás da cabeça e caíam-lhe à frente dos olhos, como um baloiço que não o deixava parar.
Tudo aquilo fez sentido e deu-lhe propósito à vida. Agora chegava a hora de brilhar, algo que nunca fez e que não sabia se queria fazer, mas que precisava de sentir.
Chegado à pensão, ignorou o “boa tarde” do senhor Eugénio, perto de 80 anos, que segura uma bengala para poder andar. Entrando directamente no seu quarto, tirou o casaco e, olhando por um instante para a janela, teve vontade de escrever, o seu velho e bom vício. Sentando-se na mesma cadeira e pegando no mesmo caderno, deixou a sua mão direita trabalhar e ‘cuspir’ as ideias que lhe pairavam na mente.
“Buddy, fiel companheiro de viagem que é a vida,
Falei com ele. Depois de tudo que passei nos últimos anos, a recompensa está aí…”
Após largos minutos de desabafo, sentiu-se pronto a fazer estragos. Surgiu-lhe, na ponta dos lábios, um sorriso tímido, que no fundo não queria aparecer, e a sua interminável confiança invadiu-lhe os olhos castanhos. Deitou-se na cama e, fechando os olhos, pensou na noite que lhe mudou a vida, há três anos atrás, quando assistiu ao seu pior pesadelo e a algo que o fez abrir os olhos… literalmente.
Afrontado, levantou-se e passou a cara por água, na casa de banho. Olhou-se ao espelho e viu juventude, motivação e muita vontade de fazer pessoas pagar por aquilo que outras pessoas lhe tinham feito. Com o cabelo a pairar-lhe na frente dos olhos, mirou intensa e demoradamente o espelho da alma, e disse uma palavra apenas.
“Showtime.”
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