Ínicio do dia

Nuno acorda. Verifica que, felizmente, já não está amarrado a Martim Pedroso. «Ainda bem. Não aguentava mais estar acorrentado. Ninguém podia fazer nada sem o outro ir atrás.»

O luso-alemão levanta-se e vai tomar um duche. «Isto aqui é estranho. Ainda não vi nada de wrestling. Para compensar temos os gajos mais esquisitos que vi na vida. Ainda ontem aquele Ricardo ficou no Quarto Branco, ou lá como se chama, por mijar para a piscina. Às vezes penso que só eu e o Pinhalves é que somos inteligentes aqui. O Martim também, mas esse faz-se de falso para vencer. Se bem que acho que vai ser o primeiro a perder. »

Nuno seca-se e veste-se com umas calças de ganga e uma t-shirt. «Só espero não ser eu. Mas quem votava em mim? Além do Martim, o mais provável é os outros nem repararem na minha pessoa. A Olga está demasiado ocupada a tentar comer o Zezé. O Pinhalves vai eliminar o Coelho na primeira oportunidade e vice-versa. O Jones é tão afetado pelos charutos que já nem sabe fazer outra coisa sem ser vaguear por aí a dizer merd*.»

"O Músico" vai para a cozinha e prepara uma tigela de cereais. «Só se fosse o Ricardo. Mas para quê? Por o ter feito vencer o concurso de braço de ferro com o Martim? Claro que nunca admitirá isso. O portista deve querer é que alguém como o Zezé, uma das poucas pessoas com uma réstia de sanidade mental aqui, seja expulso.»

Dreanhdhart começa a comer os cereais. «Porra. Sinto mesmo falta das pessoas. Não só da família, mas também a banda. Só de pensar que recusei um lugar no Bons Sons para vir para aqui...! O David e o João ficaram desiludidos... Mas por cinquenta mil euros, perceberam. Se ganhar isto posso levar a banda onde nunca foi. Até podemos lançar um EP! A nossa música podia estar nas lojas.»

Nuno suspira. «Música, Se há coisa que era preciso aqui era de música. Acalmava-me os nervos. Acho que era a única coisa capaz de me baixar a tensão, como diria a minha mãe.
A minha mãe... Gostava de falar com ela agora. Mas pelos vistos não se pode sequer telefonar nesta casa. Mas eles devem-me estar a ver agora. Aos sábados de manhã, a minha mãe vai ter com os meus avós e ficam a ver televisão. O David, se bem o conheco, ainda está a dormir no sofá, e o João deve estar acordado desde as 7 da manhã, a ver se eu faço alguma coisa de jeito.»

O líder da banda "Vivendo No Kaos" levanta-se, parecendo ter pensado nalguma coisa. «E se eu...»

Nuno olha para todos os lados, vendo se alguém já se dignou a levantar. Tudo silencioso. O aluno na Academia Portuguesa de Wrestlinge engole um seco, fecha a porta e olha para uma das câmaras.

Nuno- Olá, pessoas de Portugal. Olá, família e amigos, os poucos que posso dizer que tenho. Devem estar todos a ver-me neste momento. O André, o João, os meus avós, a minha mãe... Só queria dizer que espero que estejam a gostar de me ver aqui. Se calhar estão preocupados por mim, mas não precisam. Ainda sei cuidar de mim nesta casa de doidos.
Como está o João? Deve estar a ver pornografia, ou a escrever letras e ritmos de canções, ou a ver este programa. Sou capaz de adivinhar que está a fazer as três coisas ao mesmo tempo.
E o David? Se por algum milagre acordou antes das onze, e estiver a ver isto, não, eu ainda não comi a gaja daqui. Quase que consigo ouvir a tua desilusão (ou serão os teus roncos?) mas é a verdade.
Bem, apesar de todas as contrariedades, estou a gostar de estar aqui, portanto não têm de se preocupar comigo. Vou ganhar isto.

Depois desta mensagem, Nuno vai-se sentar no sofá da sala de jantar.