A morte lenta de um canal de televisão incómodo para o Kremlin
Página 1 de 2 • 1, 2
A morte lenta de um canal de televisão incómodo para o Kremlin
Uma simples assoalhada, um escritório, uma cadeira alta e lâmpadas fixadas às paredes com fita-cola: o único canal de televisão independente russo, o Dojd (Chuva), crítico do Kremlin, emite actualmente a partir de um apartamento, depois de ter sido forçado a deixar as suas instalações modernas num bairro ao pé do Kremlin.
“O nosso universo foi reduzido a um apartamento”, queixa-se Maria Makeeva, directora adjunta do canal privado que antes difundia dezenas de programas mas que agora se concentra apenas em boletins informativos.
Este canal, o único que cobriu em directo as manifestações da oposição contra o regime do Presidente Vladimir Putin, viu a sua popularidade descambar quando em Janeiro perdeu quase 80% dos seus cerca de 15 milhões de telespectadores, depois de ter sido privado de antena em praticamente todo o território russo.
Os principais operadores de cabo do país recusaram-se a difundir o Dojd após uma polémica relacionada com uma sondagem feita pelo canal junto dos seus telespectadores sobre o cerco de Leninegrado, durante a Segunda Guerra Mundial, quando a cidade perdeu dois terços dos seus habitantes, mortos de fome, de frio, de exaustão ou vítimas dos bombardeamentos.
“Uma linha vermelha”
O canal preguntou aos telespectadores e internautas se as autoridades soviéticas não poderiam ter entregado aquela cidade, hoje chamada São Petersburgo, à Alemanha nazi para “salvar centenas de milhares de vidas”. A pergunta provocou uma vaga de críticas no mundo político da Rússia e vários media qualificaram a sondagem de “blasfema”.
A direcção do canal pediu desculpa pela formulação “incorrecta” da pergunta e a sondagem foi rapidamente retirada do site do Dojd, mas isso não impediu o porta-voz do Presidente Vladimir Putin, Dmitri Peskov, de declarar que o canal tinha “ultrapassado uma linha vermelha”.
E foi aí que os problemas começaram. Em Março, o proprietário das instalações espaçosas que albergavam os estúdios do Dojd no centro de Moscovo exigiu a saída do canal.
Os jornalistas encontraram novas instalações, mas essa solução também não durou muito tempo: mais uma vez, o proprietário exigiu a sua partida. E, desde o início de Dezembro, o Dojd emite a partir do apartamento de um dos seus funcionários.
As finanças do canal também caíram a pique, sobretudo depois da entrada em vigor de uma lei que proíbe aos canais pagos transmitirem publicidade. Ainda assim, o Dojd conseguiu reunir uma audiência de oito milhões de telespectadores graças a uma campanha de assinaturas individuais.
“Na minha opinião, o objectivo principal é fazer com que a morte do nosso canal pareça ser uma morte provocada por razões económicas e não por razões políticas”, estima Maria Makeeva.
“Unanimidade absoluta”
A influência do Dojd na Rússia é limitada, mas a sua simples existência não deixa de ser um desafio ao poderoso universo de meios de comunicação social públicos que apoiam o regime de Vladimir Putin.
“O Dojd apresentou uma alternativa aos canais de televisão federais controlados pelo Kremlin, dando prioridade aos conteúdos informativos e dando a palavra à oposição”, declarou o Comité de Protecção de Jornalistas (CPJ), com sede em Nova Iorque, quando em Novembro entregou o Prémio Internacional de Liberdade de Imprensa a Mikhail Zygar, o director do canal russo.
A existência de um canal que fala abertamente da presença de soldados russos na Ucrânia, uma denúncia de Kiev que Moscovo desmente categoricamente, é algo embaraçoso para as autoridades quando todos os canais federais difundem quase todos os dias reportagens sobre as atrocidades cometidas pelas forças ucranianas.
“Parece que agora”, para o Kremlin, “é necessária uma unanimidade absoluta”, diz um defensor dos direitos dos media, Alexei Simonov, qualificando o ataque contra o Dojd como a “última fase” das purgas mediáticas na Rússia, segundo ele orquestradas pelo Estado russo.
Antes, já várias figuras emblemáticas do jornalismo, como a directora do site russo de notícias mais antigo e mais lido, o Lenta.ru, tinham sido despedidas ao longo do ano que agora termina. O regime também se dotou de leis vinculativas, como a que limita a 20% a parte do capital que uma entidade estrangeira pode deter de uma empresa de comunicação social na Rússia.
A liberdade que sobra fora do sistema é muito pouca. “Os canais federais estão empenhados numa guerra ideológica e de propaganda de Estado”, resume Makeeva.Fonte: Público
Um "ataque" à liberdade de imprensa mas muito mais discreto e silencioso do que o ao Charlie Hebdo.
DiogoAz- Moderador
- Número de Mensagens : 18706
Idade : 31
Localização : Maia, Porto
Emprego/lazer : Jornalismo & Comunicação
Data de inscrição : 27/12/2008
Re: A morte lenta de um canal de televisão incómodo para o Kremlin
.Aimar- Japanese Legend
- Número de Mensagens : 16222
Idade : 31
Localização : Vila Nova de Gaia, Porto
Emprego/lazer : Jogador profissional de Haxball
Data de inscrição : 10/01/2009
Re: A morte lenta de um canal de televisão incómodo para o Kremlin
.Aimar escreveu:Há que dizer que a sondagem foi parva, é como a velha questão entre comer a mãe ou morrer. Mas é claro que tiraram proveito político disso, não se justificava o que lhes aconteceu.
Ó Aimar, posso te só fazer uma pergunta?
Convidado- Convidado
Re: A morte lenta de um canal de televisão incómodo para o Kremlin
Deus escreveu:.Aimar escreveu:Há que dizer que a sondagem foi parva, é como a velha questão entre comer a mãe ou morrer. Mas é claro que tiraram proveito político disso, não se justificava o que lhes aconteceu.
Ó Aimar, posso te só fazer uma pergunta?
Os créditos são teus, esqueci-me.
.Aimar- Japanese Legend
- Número de Mensagens : 16222
Idade : 31
Localização : Vila Nova de Gaia, Porto
Emprego/lazer : Jogador profissional de Haxball
Data de inscrição : 10/01/2009
Re: A morte lenta de um canal de televisão incómodo para o Kremlin
Convidado- Convidado
Re: A morte lenta de um canal de televisão incómodo para o Kremlin
Deus escreveu:Mas preferias comer a tua mãe ou morrer?
Comer a minha mãe, não é nada de se deitar fora.
.Aimar- Japanese Legend
- Número de Mensagens : 16222
Idade : 31
Localização : Vila Nova de Gaia, Porto
Emprego/lazer : Jogador profissional de Haxball
Data de inscrição : 10/01/2009
Re: A morte lenta de um canal de televisão incómodo para o Kremlin
- Spoiler:
Convidado- Convidado
Re: A morte lenta de um canal de televisão incómodo para o Kremlin
.Aimar- Japanese Legend
- Número de Mensagens : 16222
Idade : 31
Localização : Vila Nova de Gaia, Porto
Emprego/lazer : Jogador profissional de Haxball
Data de inscrição : 10/01/2009
Re: A morte lenta de um canal de televisão incómodo para o Kremlin
rDmT93- FPW Hall Of Famer
- Número de Mensagens : 21165
Idade : 31
Localização : Almada
Emprego/lazer : Greve
Data de inscrição : 17/04/2009
Re: A morte lenta de um canal de televisão incómodo para o Kremlin
.Aimar- Japanese Legend
- Número de Mensagens : 16222
Idade : 31
Localização : Vila Nova de Gaia, Porto
Emprego/lazer : Jogador profissional de Haxball
Data de inscrição : 10/01/2009
Página 1 de 2 • 1, 2