O passar do testemunho

Passavam poucos minutos das 18 da tarde, as estrelas já encobriam o céu juntamente com a obscuridade da noite e James ainda se encontrava inconsciente no hospital de Santa Maria. Ele que horas antes tinha sido atacado por Santiago Guerrero, “La Calavera”, uma das lendas do wrestling português.
 
Vestido com o habitual traje branco do hospital destinado a pacientes, lá estava o jovem num quarto deitado na cama enquanto lhe era injetado de forma doseada medicação para conter as dores. Passado algum tempo um médico encontrava-se no quarto a reavaliar o estado clínico do lutador quando este finalmente volta a estar consciente embora um bocado atordoado da medicação.
 
Doutor: Boa noite James. Pelos vistos a medicação ainda está a surtir efeito por isso vou chamar alguém para abrandar.
 
O Doutor chama um enfermeiro ao qual pede que seja abrandada a medicação. Naturalmente James começou a sentir mais as dores e proporcionalmente a ficar mais consciente não deixando de se queixar exibindo uma expressão facial de dor.
 
Doutor: Perfeito, obrigado.
 
O enfermeiro abandona o quarto.
 
Doutor: Agora nós… uma vez que já deves estar mais consciente, consegues-me entender? Abana a cabeça na vertical se conseguires.
                                                        
O coimbrense abana a cabeça afirmativamente de forma vagarosa.
 
Doutor: Bom… Consegues lembrar do que se passou antes de acabares nesta cama?
 
James abana de novo afirmativamente após demorar um compasso de alguns segundos a pensar e era visível alguma raiva pela sua cara.
 
Doutor: Alguns progressos, mas ainda algo debilitado tenho de ser franco.
 
James: Foda-se…
 
Sussurrou muito baixo “Havoc” após perceber que nem tudo estava bem.
 
Doutor: Não tiveste nada de muito grave, alguns hematomas nas costas, cabeça, mas nada de maior gravidade. Estava-mos com receio que pudesses ter sofrido alguma concussão, devido aos golpes na cabeça e à tua queda nas escadas, e tivesses que ser observado de muito perto, mas parece que estás com sorte. Isso não que estejas em condições para ter alta hospitalar.
 
O “Havoc” foca o olhar no teto com uma cara de poucos amigos uma vez que ele queria sair dali o mais rapidamente possível.
 
Doutor: Vou deixar-te repousar a partir de agora, qualquer problema tens o botão ao lado para pedir ajuda. Amanhã voltarás a ser reavaliado.
 
O doutor saiu do quarto e James estava chateado por ter de passar mais um segundo que seja deitado naquela cama. Obrigado a estar ali aos poucos e poucos a sua cabeça os seus pensamentos iam ficando mais fluídos ao ganhar mais controlo sobre o seu corpo.
 
Entretanto o tempo ia passando, mas para ele parecia demorar bastante a passar sendo que o barulho ínfimo dos ponteiros a ecoar na sua cabeça tirava-o do sério. Mais tempo passou até que o seu companheiro de quarto, que se encontrava do seu lado esquerdo, ligou o pequeno ecrã que estava afixado na parede em frente a eles. A TV pouco dizia a James, mas o que estava a dar chamou-o de imediato à atenção – nada mais nada menos que filmagens do ataque bárbaro que tinha sofrido horas antes.
 
James: Filho da put*…
 
Sussurrou novamente.
 
Paciente: Então é por isto que estás aqui?
 
James: Tenho que sair daqui.
 
Paciente: O gajo acertou-te bem.
 
James começa a arrancar todos os cabos que tinha agarrados ao seu corpo queixando-se sorrateiramente e posteriormente levantando-se da cama ainda algo combalido.
 
Paciente: Eish, até te atirou das escadas a baixo e tudo. Sim senhor…
 
O lutador continua sem ligar nenhuma ao companheiro de quarto até que este se apercebe que James está a tentar fugir dali.
 
Paciente: Que ‘tás a fazer?! Não podes sair daqui! Não ouviste o médico?! Vou chamar os enfermeiros!
 
O jovem James agarra na mão do paciente impedindo-o de chamar ajuda pressionando o botão o que o intimidou bastante.
 
James: Tu não vais chamar ninguém percebes?
 
O homem abana a cabeça verticalmente com algum medo exibido na sua cara.
 
James: Alguma ideia de onde estejam os meus pertences?
 
Ao qual o paciente apontou prontamente para umas gavetas de uma comoda que se encontrava ao lado da cama de James.
 
Paciente: Ali naquelas gavetas…
 
James: Vês como tudo é tão fácil sem se fazer muito alarido?
 
James olha para o botão que anteriormente iria ser pressionado arrancando-o para ter certeza que ninguém ia alertar ninguém.
 
James: Não vou precisar disto para nada.
 

Ele atira então o botão para cima da cama do homem e vai-se trocar de imediato para ir embora o quanto antes sem dar muito nas vistas. 

Já longe do hospital, James andava a perguntar pelo paradeiro de Santiago Guerrero em plena baixa lisboeta, contudo ninguém era capaz de lhe dar a informação que ele tanto ansiava em ter. Muitos ou não sabiam mesmo ou não sabiam quem era o mexicano que fez maior parte da carreira na EWL.
 
Várias pessoas iam no reconhecendo e algumas tiravam fotos, filmavam ou tentavam pedir um autografo embora sem sucesso
 
No meio de fãs também havia quem apoiasse a lenda mexicana.
 
Rapaz: Hey James!
 
James olha para o rapaz que estava relativamente longe.
 
Rapaz: Andas à procura do quê? Do corrimão das escadas?
 
Ouve-se alguns risos por parte das pessoas que estavam com ele o que não agradou a James embora este não tenha dado grande importância, simplesmente ignorou.
 
Rapaz: Levaste mais tempo com um título no focinho do que tiveste com título hardcore! E falo mesmo título, não um brinquedo da Toys ‘R’ Us que te deram para as mãos.
 
O lutador não gostou muito e foi incapaz de ignorar, aproximando-se a caminhar do sujeito que lhe dirigia tais palavras.
 
James: Conheço-te? És alguma espécie de lutador? Não te reconheço…
 
Rapaz: Não, mas não deve ser difícil dar-te um enxerto de porrada.
 
James ri-se sarcasticamente.
 
James: Espetáculo… grande bolas diretamente ligadas à boca… Será que quando te der a coça da tua vida vão-te sair os amendoins por aí? Será que queres experimentar?
 
O rapaz não diz nada algo embaraçado e James toca-lhe com o indicador no peito desafiando de certa maneira e agora dirige palavras aos amigos dele enquanto muitas pessoas se vão focando naquele ponto da baixa para ver o que se está a passar.
 
James: Se isto acontecesse, os vossos risinhos pacóvios seriam a última coisa que ele iria querer lembrar e não interessava quantos de vocês o tentavam ajudar, porque no fim do dia o meu conselho é não tentem foder com o meu dia, percebido?
 
Ele vê muita gente a gravar a cena então aproveitou para dirigir algumas palavras a Santiago.
 
James: E quanto ao que aconteceu hoje de tarde, gostava de ver o mesmo Santiago de frente e sem nada das mãos, será que ele era o mesmo homem? Valores não é com ele, mas eu não sou o Diogo Lourenço, um saco de pancada que levo e deixo-me ficar, se ele é assim tão homem quero o ver dentro do ringue no dia 27 contra mim!
 
Nisto James Brandão deixa toda a gente em êxtase com o desafio e vira costas indo embora.