Querido diário

Zezé encontra-se deitado na sua cama a olhar para o tecto, com um caderno velho e uma caneta em cima do seu peito. Após algum tempo perdido em pensamentos, Zezé decide abrir o caderno. A página em que o abriu, uma página completamente escrita, trouxe-lhe ao pensamento uma boa memória, que fez o Maiato esboçar um enorme sorriso.

Após uns minutos de leitura, José Silva, resolve saltar para a primeira página em branco. Retira a tampa da caneta com o auxílio da boca e começa a escrever:

Querido diário, os primeiros dias aqui revelaram que isto será bem mais complicado que aquilo que eu julguei inicialmente. Obviamente que a minha força e determinação não foi abalada, continuo com as boas energias que me transmites, bem como aquelas que posso obter da pouca fonte de vida que encontro nesta casa, num pequeno espaço exterior. Mas foi, também, aí que tive a primeira desilusão: Carlos Cesar, um concorrente que não tive a oportunidade de conhecer aprofundadamente, desrespeitou a Mãe, urinando na maior e mais vistosa árvore que temos cá dentro. O pior, é que não tive, sequer, oportunidade de lhe tentar mudar a mentalidade, ou de lhe perguntar o porquê desse acto. Pura e simplesmente, foi expulso da Casa por consumir "substâncias ilícitas"... sim, este é esse tipo de gente, que discrimina os consumidores. Mas isso é pouco interessante, neste momento, agora terei que arranjar forma de compensar a Mãe, pelo desrespeito de Carlos... Pensei em plantar uma nova fonte de vida, mas onde a arranjarei?
Ai, fonte de vida... Incrível como dizê-lo me faz sempre lembrar a minha mãe... Estará bem? Será que me viu? Tão pouco tempo e já tenho tantas saudades, preciso de conviver com as pessoas de quem gosto.
E por falar em pessoas, os irmãos daqui, pelo menos oas que fui conhecendo, são muito diferentes daqueles com quem me envolveria. Encontra-se um pouco de tudo, desde um Açoriano completamente xenófobo em relação aos Continentais, um Hooligan que preza mais um clube de futebol que a própria família, um irmão com a mania das superioridades, um outro irmão incapaz de respeitar quem quer que seja... Mas claro que há malta boa onda por aqui. Até agora fiquei com boa impressão do José Pinhalves, um irmão que não fala, mas deixa que as suas boas atitudes digam muito por ele e uma irmã, a Olga, que me conhecendo há muito pouco tempo, já mostrou interesse na minha forma de ser e já teve para comigo uma palavra doce e carinhosa. Penso que gostarei imenso de a conhecer melhor porque me faz lembrar a Rita, com as devidas diferenças, porque sabes bem que a Rita é única e especial... Como sinto a falta dos seus abraços...

O Maiato sente-se, no final deste desabafo manuscrito, muito melhor e, depois de o guardar de volta dentro da sua mala, debaixo da cama, com o mesmo esticar de braço com que o havia retirado de lá, adormece numa questão de minutos, com a esperança de que o dia de amanhã lhe traga momentos bem melhores.