Onde está a arte de levar com uma cadeira de alumínio nas costas? - Tiago Mesquita

Há coisas que não consigo entender. Uma delas é o fenómeno do Wrestling. Mais grave ainda é que alguns entendidos na matéria consideram este "desporto" verdadeira arte. Arte de quê, de malhar?

Detesto desportos violentos. O meu limite em termos de agressividade situa-se entre o râguebi e os discursos de Alberto João Jardim no Chão da Lagoa. Mas respeito o boxe enquanto desporto. Dois indivíduos mais ou menos com o mesmo peso calçam as luvas, combinam um local, e depois vão martelando a cara e parte do corpo um do outro até um deles desistir por estar a ver três dedos do árbitro onde apenas se encontra um. Ou ainda ganhando aos pontos se nenhum for ao tapete durante o combate (pontos atribuídos conforme os estragos causados na face dos boxeurs).

Mas transcende-me alguém gostar de Wrestling. E pior fico quando ouço um comentador/aficionado chamar a esta mistura de circo Chen, novela mexicana e luta greco romana arte. Arte? E ir a um museu de vez em quando? Seria pedir muito. Até porque no museu não damos de cara com o Kane - um individuo de dois metros, lentes de contacto brancas e ar de quem engole um vitelo vivo. Nem vemos o Edge dar duas lambadas no árbitro, no empresário, no comentador e no senhor das pipocas e dos tacos.

O que vale um Miró ou um Van Gogh ao lado de um Undertaker ou de um Rey Mysterio? Um mexicano que voa pelo ringue como um macaco com o cio e cuja especialidade é desfazer cadeiras de alumínio nas costas dos adversários. Um querido. E chama-se Mysterio porque usa uma máscara a tapar a face. Que original. Mais sui generis só mesmo as gravatas do Rui Santos no "Tempo Extra". Tem uma em tons laranja que parece o Nemo.

Fico incomodado quando ouço chamar ao Wrestling desporto. Isto porque no desporto é suposto haver vencedores e vencidos. E neste processo uns e outros não combinam quem sairá vencedor e como tudo se vai passar. A magia do desporto é a imprevisibilidade. E a imprevisibilidade do Wrestling passa por saber quantas calinadas os atletas vão conseguir dizer cada vez que lhe metem um microfone à frente. Nunca vi e ouvi tanta baboseira em tão poucos minutos. Ou melhor ouvi mas foi num discurso político para as eleições autárquicas.

Este "desporto" de "milhões" é de facto um "mysterio". E pagar um bilhete a peso de ouro para ver um espectáculo deste género é-me mim difícil de entender porque assisti a vários shows semelhantes nos bares da Oura durante o Verão e nunca paguei um tostão. E os combates não eram combinados. Era "porradinha" a sério. Os personagens eram igualmente hilariantes.